C2PC - Ensaio projetual sobre um centro comunitário de cultura contemporânea no Centro Histórico de João Pessoa
Com o tema de revitalização do Centro Histórico de João Pessoa em alta, com os programas estaduais e municipais como o ICMS Cultural e o Viva o Centro, já estava mais que na hora de fazer um post dedicado para o meu TCC. Meu trabalho de conclusão de curso se propôs a realizar um ensaio projetual a partir de uma discussão teórica de fundamentação e uma análise da cidade de João Pessoa sob a ótica do desenvolvimento de suas heterotopias. Ao final o projeto busca requalificar um conjunto de 4 casarões históricos no bairro do Varadouro de João Pessoa - PB, transformando-os em um Centro Cultural (apelidado de C2PC).
A crescente nuvem de informações obstrui o pensar futuros coletivos. Diante a crise climática substituiu-se no imaginário a viabilidade da ação comunitária por soluções opostas a preservação de multiplicidades da vida terrestre. O arquiteto em um “campo ampliado” inclui outras disciplinas como arte, tecnologia e sociologia para contribuir no enfrentamento de problemas político-culturais e na formação de um desenvolvimento descentralizado e inclusivo.
A distribuição de equipamentos culturais em João Pessoa mostrou-se excludente: submetida a um mercado turístico por sua associação a locais espraiados de baixa acessibilidade e a expulsão de comunidades locais - seja em seu Centro Histórico ou seja na formação de pólos turísticos em regiões com baixa integração com o restante da cidade e de seus agentes culturais (como observado no mapa).
Manifestações culturais no Centro Histórico ocupam espaços públicos tomando-se consciência da capacidade da ação coletiva na revolução da vida cotidiana. Formam-se heterotopias. A cultura como instrumento de luta pelo direito à cidade motiva este ensaio de um espaço catalisador na produção de novas utopias: um centro comunitário de cultura contemporânea no Centro Histórico. O projeto requalifica os casarões em que se insere e potencializa circuitos culturais através de espaços mutáveis que diversificam oportunidades de apropriação cultural e estimulam o desenvolvimento a partir de novas tecnologias.
Atuar na produção da arquitetura contemporânea em seu campo ampliado é reconhecer seu caráter político. Uma vez que as barreiras estão conceitualmente diluídas entre público X privado, natural X cultural, lazer X trabalho, entre outras, a cidade se torna suscetível a ascenção de espaços de desorientação, “Junkspaces” como coloca Koolhaas, “isotopias” como coloca Harvey e Lefebvre. Em seu oposto as heterotopias se fundamentam como espaços de reivindicar o caráter público da cidade. Diante desse contexto o ensaio explora as relações que se desenvolvem em um espaço cultural contemporâneo para empoderar comunidades e retroalimentar o potencial do Centro Histórico de concentrar, produzir e não só consumir cultura.
Os espaços e o programa do edifício giram em torno da ativação de onde o mesmo se insere. A intervenção é direcionada a tensionar as relações de exterior e interior convidando o público a participar de suas produções.
Busca-se apropriar da tecnologia. A maleabilidade dos tecidos adotados no espaço representam a intersecção do mundo virtual com o material. Projetores participam das apresentações e possibilitam exposições interativas. Polias, cabos e automações permitem alterar altura de calhas de iluminação dos espaços, retrair a cobertura do palco, garantindo apropriações diversas. Assim são apresentados 4 cenários que adaptam o edifício às suas necessidades: o Cotidiano, o Festival de Cinema, o Grande Espetáculo Teatral e o Festival de Música.
O casarão mais descaracterizado apresentava uma fachada com diversas patologias e uma coberta original ausente. Seu interior é marcado por uma árvore de grande porte que se enraizou. Mantém-se a árvore e adota-se a estratégia de trazer o exterior para dentro do edifício, o mesmo se torna uma tela em branco a partir de sua nova pintura branca, delimitando didaticamente sua intervenção sem se desarmonizar do conjunto. Adota-se um palco flexível para apresentações, cobertura e tecidos retráteis e mobiliário recolhíveis. As adições ao fundo criam também um novo espaço de ensaios e apresentações, sua transparência garante comunicação com a praça. Seus caixilhos móveis permitem que o espaço se torne um palco, tela de projeção ou lugar de ensaios que despertem a curiosidade de quem passa.
Mantém-se a materialidade dos demais casarões em seus estados de conservação melhores, preservando suas marcas do tempo, ainda que com suas patologias sendo remediadas. Elementos se inserem na coberta a melhorar a habitabilidade da edificação, trazendo iluminação e ventilação natural ao seu interior, impregnando a leitura de um todo sem a perda da visibilidade da arquitetura original. As adições se diferenciam do existente por sua materialidade leve, de instalação seca e marcada pelas cores contrastantes.
Internamente, a transparência das esquadrias propostas permitem interação entre as áreas de exposição e produção, o ateliê adentra o museu; O estúdio se insere como uma arquitetura dentro de uma arquitetura, sobrepõe-se ao tempo antigo do casarão e coforma-se um espaço de imersão virtual dentro do ateliê.
O trabalho completo encontra-se no repositório digital da UFPB, que pode ser acessado através do link: Repositório Institucional da UFPB: C2PC: Ensaio projetual sobre um centro comunitário de cultura contemporânea no Centro Histórico de João Pessoa